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Eduardo Santos. "A dona me mostrou o que era um lençol e disse para eu lavar os pés para não sujá-lo"

Tem uma memória prodigiosa e apenas a audição o prejudica. Conheceu a miséria mais lei cassinos brasil -profunda, andou descalço nos anos em que foi pastor, recebeu como ordenado um par de sapatos. Aventurou-se por Lisboa e foi construindo seu pequeno império na restauração. É Eduardo Santos, das Conquilhas, na Parede. É uma história de vida…


Daniela Soares Ferreira, Vítor Rainho

às

Eduardo Santos.

 

 

Tem uma memória prodigiosa e apenas a audição o prejudica. Conheceu a miséria mais profunda, andou descalço nos anos em que foi pastor, recebeu como ordenado um par de sapatos. Aventurou-se por Lisboa e foi construindo seu pequeno império na restauração. É Eduardo Santos, das Conquilhas, na Parede.

É uma história de vida que reflete a do país onde milhões de pessoas passaram fome que dava dó, durante a II Grande Guerra, em que os que podiam fugiam das terras onde pouco mais havia para comer do que alguns produtos agrícolas &8211; na época havia muitos vegetarianos à força. Fugiu da miséria a que estava condenado e fez um percurso de vida que o levou a uma situação confortável, à custa de muito trabalho. Eduardo, das Conquilhas da Parede, é um clássico há muitos anos. Se o seu mentor conseguiu tirar da miséria boa parte da família, trazendo-os para a sua cervejaria, um dos seus sobrinhos resgatado tornou-se um ícone da restauração: António, sozinho, varria a sala principal, andando quilômetros durante a tarde e a noite, não se esquecendo de um pedido nem deixando ninguém à sede (sempre atento aos copos vazios) depois de sair do banco onde trabalhava durante o dia.

Sua voz tornou-se inconfundível para os milhares de clientes que passaram pelo Eduardo das Conquilhas: “Sai três imperiais, um prato de presunto, 200 gramas de camarão, uma sapateira ao natural para a mesa 7”, diz enquanto prepara já outra mesa. Mas Eduardo Santos é que pôs em pé um pequeno império da restauração que se alastra agora, pela mão do filho, ao alojamento local. Aqui fica a história de um homem com um percurso de vida fantástico, com a colaboração do filho Ricardo, a quem trata muitas vezes por Amor. 

Onde você nasceu?

Nasci em Moninho, freguesia e concelho de Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra, a 1º de maio de 1930, fiz agora 89 anos. 

E esteve lá até que idade?

Havia muita guerra e muita fome. Meu pai tinha caído de umas escadas, nas azeitonas, e minha mãe, como muitas mães, não tinha o que nos dar de comer. Fui servir de pastor para Arganil, andei descalço durante um ano.

Com que idade?

Devia ter oito, nove anos. Durante um ano não ganhei nada. No ano seguinte fui servir para ao pé de Castanheira de Pera e aí os meus patrões ofereceram-me uns tamancos. E era também pastor. Fui durante dois anos. 

E como tinha dinheiro para se alimentar?

Era uma sopa de abóbora ao almoço e outra ao jantar. As pessoas viviam da horta. Depois desses dois anos de pastor, minha mãe ia ver-me uma vez por ano, porque eu estava muito longe e davam-lhe qualquer coisa como compensação pelo meu trabalho. Mas era tudo uma miséria. Eu não critico as pessoas, era o sistema. Davam-lhe meia broa ou dois ou três ovinhos para ela levar. Um dia, no curral ao meu lado, apareceram muitas moedas no chão. Minha mãe foi ver-me e eu contei-lhe. E ela disse-me que era para me experimentarem, para eu não mexer em nada. Disse-me que quem as lá tinha posto, havia de as tirar. E elas lá desapareceram.

E depois dos dois anos de pastor?

Arranjaram-me trabalho ao pé de Arganil para ser criado de casa. Ia ao mato, à lenha, às hortas, só não ia com o gado para o monte. Quando cheguei lá a minha patroa disse-me onde era o meu quarto. Fiquei espantado. Na altura já devia ter 14 anos. E ela perguntou-me se eu nunca tinha visto um quarto. Sabia lá eu o que era um quarto. Mostrou-me o que era um lençol e eu não sabia. Nunca tinha visto um lençol, sabia lá o que era. Explicou-me que eu tinha um lençol na minha cama e que todos os dias tinha de lavar os pés para não sujar o lençol. Disse-me ainda que tinham uma coisinha em madeira, com um cano que vinha do fogão a lenha e a água saía morna. E eu lavava os pés todos os dias. Num cantinho, tinha também um chuveiro. E todas as semanas eu tomava banho. Lá era um senhor, tratava-me como filho. Vejam a ironia do destino. Minha família lá na minha aldeia vivia ao lado da capela. Nós éramos conhecidos pelos da Santa. Fui para uma terra que era o Couratão, a seguir a Góis. Como a casa do meu patrão era ao lado da capela, era conhecido como Tio João da Santa. Olhem que isto!

E o que aprendeu enquanto lá esteve?

Ao longo desses dois anos aprendi a enxertar videiras, cerejeiras. Dois anos tratado como um filho. Depois fui para a minha terra e minha mãe &8211; na altura quem tinha menos hortas era mais pobre &8211; tinha poucas hortas. Mas começou a tratar de hortas de outras pessoas que davam um x. Por exemplo, dez alqueires de milho. Era assim o sistema. E eu já tratava das videiras da minha mãe, dessas hortas. E por causa disso, lá na minha aldeia, puseram-me a alcunha de fazendeiro. Era o Eduardo Fazendeiro porque me dedicava às hortas. 

E como veio para Lisboa?

Minha irmã mais velha morava em Alfama e eu escrevi-lhe uma carta a ver se ela me arranjava trabalho. 

Com que idade?

Já devia ter 16 anos. Eu comprava o Jornal de Noticias onde havia anúncios a pedir moços chegados da província. Fui a uma entrevista, a seguir à guerra. Precisavam de três, estavam lá mais de 30. Após a guerra não havia trabalho para ninguém. Minha irmã dizia que eu tinha de ir para a terra, ao fim de três meses, porque não me podia ter lá mais tempo. O marido trabalhava na estiva e ela um dia lembrou-se de um senhor que conhecia em Carcavelos e viemos ver se ele me arranjava trabalho. Ele estava numa carvoaria, na altura não havia gás. Fui ter com o senhor mas ele não tinha trabalho. Dormi lá e no outro dia o senhor foi a uma vacaria, a uma leitaria, a uma mercearia, mas ninguém precisava de ninguém. Fui-me embora. 23 tostões custava o bilhete de comboio daqui da Parede para o Cais do Sodré e ele pagou-me o bilhete. O senhor não me arranjou trabalho mas transmitiu a um irmão que tinha uma carvoaria em Carcavelos e o irmão no dia seguinte foi buscar-me. Fiquei tão contente. E sabem onde é que eu dormia? No chão, numa garagem. Com aqueles sacos de carvão por baixo, sacos a fazer de travesseiro, mas o homem foi inteligente e eu dormi ali um mês ou dois. Foi inteligente porque reconheceu que não tinha condições de me ter ali. Então pediu a um primo de Oeiras que tinha uma carvoaria se me arranjava trabalho. O primo disse que eu podia ir porque o irmão dele tinha ido para a tropa. E assim já dormia numa caminha. 

Como era o trabalho?

Andava a vender carvão por Linda-a-Pastora e Linda-a-Velha, tinha uma carroça e um burro. Tocava com uma corneta, as pessoas apareciam e pediam. Era assim, uma vida difícil. Quando um dia fui chamado para a inspeção ao Quartel de Paço de Arcos ouvi uma voz a dizer ‘Eduardo dos Santos aprovado para todo o serviço militar’. Até saltei de alegria. A vida era muito dura. Eu era o soldado número 32, nunca me esqueci do meu número. Íamos para Timor, fomos levantar o fardamento e íamos de barco. A quatro dias de embarcarmos foi desmobilizada a companhia, já não fui para Timor.

O que fez depois da tropa?

Vim ter a Oeiras com o meu patrão, mas o irmão dele já tinha voltado da tropa, por isso ele já não precisava de mim. Fui ter com um senhor da minha terra que tinha uma carvoaria em Oeiras também. Olhou para mim, disse que já sabia o que se passava comigo, e disse que tinha comprado uma carvoaria com o irmão na Parede e mandou-me para lá. Ainda está lá a janelinha do meu quarto nestas casas aqui deitadas abaixo [Navegar:2925

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